O poder de Angkor - Diários da Indochina XI






O Hinduísmo ensina-nos que cada acontecimento não é um fato isolado,mas sim uma reação em cadeia. Cada palavra que dizemos, cada interação com outra pessoa, cada pequena escolha. Nada passa sem causar um efeito, que por sua vez será a causa de outro efeito… E assim consequentemente, no chamado Efeito Borboleta.

Segundo os ensinamento hinduístas o universo possui uma mecânica de interconexão, onde todas as partes estão intimamente relacionadas entre si. Para explicar este príncipio têm uma metáfora apelidada de "A Teia de Indra“. 

Francis Harold Cook descreve a metáfora, também conhecida como " A Rede de Indra", da seguinte forma:


"Muito além na abóbada celeste do grande deus Indra existe uma maravilhosa teia, pendurada por um habilidoso artesão de tal forma que se estende infinitamente em todas as direções. De acordo com o gosto extravagante das divindades, o artesão pendurou uma jóia reluzente em cada "olho" da teia, e, assim como a teia é infinita na sua dimensão, as jóias são infinitas no seu número. Assim ficam penduradas, reluzindo como "estrelas" de primeira magnitude, uma visão deslumbrante para se admirar. Se agora selecionarmos qualquer uma dessas jóias e a examinarmos de perto, descobriremos que em cada face polida estão refletidas "todas" as outras jóias da rede, infinitas em número. Para além isso, cada uma das jóias refletidas nesta jóia também reflete todas as outras jóias, o que faz com que exista um processo infinito de reflexos."


Este é o poder de Angkor e dos seus Templos. São centenas, permitindo ao viajante escolher o seu próprio caminho, encontrando para si mesmo o momento, que em paz, se permite descobrir como Angkor foi possível. Angkor junta o Budismo e o Hinduísmo numa conexão perfeita. Na realidade ocidental estaríamos a falar de Jerusalém como a casa de todas as religiões. Angkor, mais que casa é um refúgio intemporal. Angkor é única porque uniu uma religião monoteísta (Budismo) a uma religião politeísta (Hinduísmo), realidade diferente de Jerusalém, que une muçulmanos, cristãos e judeus, todas elas religiões monoteístas.
   
Angkor faz-nos voltar a perceber que todos somos um, que todos somos responsáveis por todos, incluindo as vitórias e derrotas que isso nos trará. Hoje percebo que o melhor tributo que posso prestar a Angkor é voltar a casa e no meu trabalho, no amor, na família e com os amigos "fazer o melhor que posso e sei com o tempo e recursos que tenho...". Percebo, relembro, que não há que ter medo do nosso poder, que não há que deixar de fazer caminho, que, mesmo duvidando, não há que paralisar.... porque existem mesmo dias em que tudo pode e deve mudar.